O Professor Luís M. Arruda é a lucidez de uma consciência crítica. Exigente, inconformado, frontal, observador atento de realidades visíveis e invisíveis, animado pela curiosidade científica e pelo interesse cultural, a sua formação científica fá-lo autor do rigor e da minúcia. É um estudioso que trabalha a partir das fontes.
Nasceu nesta cidade da Horta em 1944. Doutor em Ciências pela Universidade de Lisboa, foi Professor na Faculdade de Ciências daquela Universidade. Como docente, regeu numerosas disciplinas e orientou estágios, monografias e teses de doutoramento. Como investigador, tem sido responsável por vários projectos de investigação, especialmente na área da Ictiologia, e participado, activamente, em diversos congressos nacionais e internacionais. Os resultados das suas investigações encontram-se em várias dezenas de publicações em revistas científicas, nacionais e estrangeiras. Investigador convidado no Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa da Universidade Católica Portuguesa, foi coordenador-geral da Enciclopédia Açoriana e editor do Boletim do Núcleo Cultural da Horta. Presentemente estuda a história do conhecimento científico, em geral, e do biológico, em particular, nos Açores e no Atlântico envolvente, especialmente do século XIX.
Cidadão interessado em contribuir para a valorização científica, histórica e patrimonial da ilha do Faial, autor documentado, informado e bem apetrechado em termos teóricos, com capacidade de informar, esclarecer, decifrar e avaliar, Luís M. Arruda dá um tratamento criterioso e meticuloso a tudo o que escreve.
É o caso dos seus últimos três livros, que passaram mais ou menos despercebidos entre nós, e de que aqui se dará breve nota.
Toponímia da Freguesia da Matriz da Horta – Biografia dos homenageados (Junta de Freguesia da Matriz da Horta, 2007) é um livro sem precedentes entre nós que dá a conhecer as ruas e as biografias dos respectivos homenageados da freguesia em apreço, bem como a relação toponímica quando existente. As biografias estão ordenadas alfabeticamente com referência ao antropónimo atribuído pela municipalidade hortense. Com importante iconografia, este estudo constitui precioso contributo para o conhecimento da nossa História local, nomeadamente a maneira como se processou o crescimento e desenvolvimento da cidade da Horta.
Considero que seria de grande importância que Luís M. Arruda alargasse o âmbito dos seus estudos às freguesias das Angústias e da Conceição. Fica aqui o repto aos respectivos autarcas.
Obra Científica de Francisco de Arruda Furtado, com Introdução, levantamento e estudo de Luís M. Arruda (Instituto Cultural de Ponta Delgada, Instituto Açoriano de Cultura, 2008), contendo quase 800 páginas, esta obra reúne a totalidade dos trabalhos de investigação e artigos de divulgação científica de Arruda Furtado nas mais variadas áreas, das quais se destacam a Malacologia, o Evolucionismo, a Biogeografia e a Antropologia. A obra inclui ainda a vasta correspondência que o autor trocou com gente ligada às mais diversas sociedades e instituições portuguesas e estrangeiras.
Francisco de Arruda Furtado (1854-1887), naturalista e antropólogo, foi um auto-didacta que viveu quase toda a sua vida em S. Miguel, onde nasceu e faleceu antes de completar 33 anos. Da referida correspondência consta um total de 345 documentos, entre os quais 6 cartas a Charles Darwin e quatro respostas do famoso cientista inglês.
Contemporâneo de Antero de Quental e Teófilo Braga, Arruda Furtado foi, por conseguinte, o único correspondente português de Charles Darwin. Influenciado por Carlos Machado, seu professor do Liceu de Ponta Delgada, e motivado pela leitura de A Origem das Espécies (On the Origin of Species, na edição inglesa de 1878), o jovem investigador micaelense (então com 26 anos de idade) dispôs-se a procurar, nos Açores, dados zoológicos e botânicos que contribuíssem para a resolução de dúvidas e para a confirmação das propostas de Darwin.
Jardins na Ilha do Faial (Câmara Municipal da Horta, 2009), recentemente lançado, é um trabalho de investigação de grande interesse, em que o autor inventaria os jardins públicos e privados do Faial, tecendo sobre eles considerações sobre algumas espécies botânicas, por um lado, e, por outro, fazendo um enquadramento do percurso histórico da ilha do Faial. São citados vários autores e viajantes (sobretudo do século XIX) que deixaram testemunho escrito sobre a matéria em apreço. Muitas referências aos jardins dos Dabney na perspectiva dos ditos viajantes. Pena é que Luís M. Arruda não tenha recorrido aos 3 volumes dos Anais da Família Dabney (I.A.C. e Núcleo Cultural da Horta, 2004, 2005, 2006), de Roxana Dabney, onde se encontra abundante referência aos jardins vistos na perspectiva da própria família norte-americana (ver Índice Analítico, vol. 3 da obra em referência, pág. 609).
No século XIX, o entusiasmo pela ciência que grassou por todo o mundo civilizado também se fez sentir nos Açores. Disso testemunham hoje os magníficos jardins botânicos existentes nestas ilhas, resultado do esforço e do enriquecimento de particulares que assim emprestavam às suas residências um ar de grandiosidade cosmopolita.
Dignos de menção são os jardins do morgado António Borges, do marquês Jácome Correia e de José do Canto, em Ponta Delgada, o Jardim Público de Angra do Heroísmo, e o Jardim Botânico, na ilha do Faial. Várias centenas de espécies exóticas foram então introduzidas, com fins industriais ou simplesmente para ornamentação, e, ainda hoje as suas silhuetas projectam-se, imponentes, no horizonte açoriano. O esforço desses amantes da ciência e da natureza enriquecem as nossas ilhas.
Amantes da ciência e da natureza foram, na ilha do Faial, os elementos da já referida família Dabney. A eles se devem os primeiros parques e jardins e foram eles que introduziram as araucárias no Faial e nos Açores.
Mais do que espaços de contemplação e de convívio, os jardins do Faial são, hoje, um património ímpar que importa saber preservar e neles conservar a flora endémica.
Graficamente bem apresentado, o livro é documentado com importantes registos fotográficos.
Concluindo: Luís M. Arruda, um ilustre filho desta terra, continua a ser mais conhecido do que lido. Para inverter esta situação, recomendo vivamente a leitura destes três livros.
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